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Mostrando postagens de 2016

Risos azuis

Risos azuis Você chegou como uma bela tempestade E desgovernou minha doce calmaria Com sua chama ardente tocando minha pele Então as palavras saíram pelo ar E deixei que me levassem. Fechei os olhos e só havia você - tudo se movia ao redor de seu sorriso Mas agora sou só eu, e todo esse nada.

Catherine

E durante as tempestades, meus gritos imploram pelo espectro iridescente de ódio que somente sua luz podia trazer. Invoco sua alma a cada instante do vazio de dor e prazer que consume o inacabável restante de meus dias, e rezo aos dois lados que me tragam o assombro de seus olhos inquietantes - apenas uma vez mais. Então me lembro dos momentos de amor e ódio, em que tudo o que tínhamos era o outro. Meus olhos se fecham lentamente, e me jogo de braços abertos no poço dolorido que grita meu nome, mergulhando em seu sangue. Acho que já é hora. A luz que vem de fora faz meus olhos arderem, mas não reluto. Sua chama gloriosa me assombra, e tudo fica bem novamente, então percebo que estou pronto. E eu aceito. Enfim, eu aceito.

Chuva

Ela toca minha pele e tudo transborda Como um raio de sol num dia de verão, o arco-íris depois da tempestade forte. Ela tem música que ecoa pelos ares, como uma deliciosa calmaria Depois da tempestade no meio da noite Quando seu riso ressoa e tudo ressurge. Ela dança em minha garoa, e faz brilhar Quando trás sorrisos e dias coloridos E caminha como um furacão perigoso - o azul mais quente do céu ensolarado. E pra onde ela vai? Eu não sei, eu não sei Mas a sigo, rodopiando lentamente nos acordes de sua sedutora canção.

Copo

Você foi a tempestade mais poética Em meio a uma dezena de furacões E me manteve acesa como seus olhos. Dentro de seus braços, eu era eu E o que posso dizer agora? Transbordo palavras que não possuo E todas elas chovem como a noite - elas chovem como eu mas não são minhas. E o que posso dizer agora? Elas não brilham como o sopro quente Mas eu estou aqui, e ainda sou eu com memórias que não cabem nos versos. Tentando me despedir do verão, os raios coloriram minha pele sem você para fazer o contorno, Mas ainda eram quentes e agradáveis. Eu fui a tempestade barulhenta, Em meio à música silenciosa que vinha de você e me acalmava. Dentro de seus braços, eu era eu E o que posso dizer agora, quando tudo se dissipou? Mas continuo aqui, e ainda sou eu - com palavras que não me pertencem e memórias que não cabem nos versos. (Transbordando coisas que não possuo) E como...

Em chamas

Esta sou eu reduzida a pedaços Esta sou eu quando me decomponho, Esta é a verdadeira eu: em chamas. Olhe nos meus olhos, esta sou eu. Segure minhas mãos e me acompanhe, ou então deixe ir. Apenas vá. Porque essa sou eu, quase sem ar Essa sou eu quando me fragmento Ou quando não posso mais respirar. Esta é a verdadeira eu: em chamas Então fique ao meu lado, ou vá embora. Olhe nos meus olhos, esta sou eu. E quando os dias estiverem frios, toque meus cabelos, me abrace. Fique. Olhe nos meus olhos, esta sou eu. Cores pra fora das linhas, em chamas. Esta sou eu, e você é você.

Garoa

O relógio tiquetaqueava sem parar, misturando-se ao som dos pingos de chuva que batiam na janela. Ela gostava de chuva, mas o tempo passava tão devagar...e ainda nem era meio-dia. Se pegou encarando a parede recém-pintada de seu quarto, que exibia o azul brilhante que comprara na loja do fim da rua. Não pôde deixar de se perguntar porque tudo parecia tão vivo. O vento frio que entrava pela fresta da janela e a fazia tremer, o tempo que parecia recusar-se a passar mais depressa e a parede brilhante. Talvez porque ela estivesse com sono. Com sono não - cansada. Cansada de abrir os olhos. Porque que alguém se cansa de nada? perguntou a si mesma, num misto do que pareceu um soluço e bocejo, e se encolheu numa bola. Estava tão frio. E claro. Ela precisava de um cobertor. Engatinhou até o guarda-roupas, exausta demais para se levantar, e puxou sua manta velha, enrolando-a em volta de seu corpo, e se enrolando em volta de si mesma, e ap...

Eu sou uma garota - parte 2

Sobre como a recente descoberta do movimento feminista me ajudou - tem ajudado. Eu sempre tive problemas com minha aparência. E era algo constante - aquele ciclo vicioso e doentio das coisas que nos são impostas e ditas até que, num certo momento, você percebe que odeia uma série de coisas em você. Sua pele, as espinhas, seu cabelo, seu corpo, seu sorriso, seu peso - qualquer uma dessas coisas, ou todas elas, juntas. Eu não fugi disso. Me pegava procurando defeitos, coisas para odiar em mim, e era horrível. Eu me sentia horrível. Eu sei que muitas pessoas questionam o porquê de o movimento feminista existir, e eu também sei que eu poderia citar diversos motivos que justificariam - e muito bem - sua existência. Não que eu ache que seja necessário fazer alguma justificativa, mas acredito que o que eu disse anteriormente pode ser uma delas. Eu realmente acredito. Sei que não sou a única pessoa no mundo que j...

Sobre a música "Demons"

Enxergar. Acho que a música se trata disso. Minha música favorita, ou uma delas, porque tenho várias, e isso depende do meu humor. Ontem mesmo estava escutando um pop chiclete - uma música bem dançante - da girlband do momento, enquanto cantarolava pela casa. Essa música, entretando - Demons , ela se chama, não é dançante. Pelo menos eu penso que não. Ritmo calmo, voz poderosa, letra melancólica. Ouço quando estou triste, ou numa crise existencial - e elas são frequentes. Eu até diria que contínuas, mas isso soaria um pouco pessimista e, até, maluco, então frequentes me parece mais adequado. É uma música boa. Eu, particularmente, gosto da letra, apesar de às vezes não compreendê-la. Ainda penso que se trata se enxergar. A si mesmo, e então deixar que outra pessoa te enxergue - as coisas boas, e também as ruins, sem selecioná-las. Apenas...olhar pra você. E ...

Poema de Mick para Leah *

"De volta pra aquela noite" Você me disse pra não ir e eu vi em seu rosto aquele olhar Então não havia mais volta. Estamos apenas alguns passos - uns poucos metros de distância um do outro. Isso é tudo o que nos separa, mas eu não posso chegar até você. Onde foi que nos perdemos? Você está por perto, mas eu não te vejo - eu não te vejo agora. Garota, eu estou perdido E tudo o que eu quero é seus braços em volta dos meus, mais uma vez De novo, e de novo Mas eu estou cansado sem você, E agora não tenho nada. Então você surge na porta, mas não parece me ver (Então isso é um adeus?) Você tem aquele olhar, e eu o odeio Porque agora não tenho nada E a escuridão se aproxima Eu quero gritar que sinto muito, mas estou preso. Eu quero voltar pra aquela noite Me deixe fazer tudo certo Porque garota, eu não tenho nada Eu não tenho nada sem ...

A parede verde

Onde foi que nós nos perdemos? Aquela frase vinha martelando em sua cabeça durante todo o caminho de volta para casa, que normalmente nada mais era do que meros quinze minutos, mas naquela noite havia se estendido para cerca de meia hora pelo fato de ele ter mudado a rota. Ironia - ele riu, pensando no sentido da palavra rota, porque nem estava tentando fazer uma metáfora, e ali estava ela. Onde foi que suas rotas haviam se separado? Suspirou, pensando, mais uma vez, que aquela era uma péssima ideia. Ele pegara a droga de um caminho longo, correndo o risco de ser assaltado - já passava da meia noite, e seu bairro não era lá o mais seguro da cidade - apenas para poder pensar sem ser interrompido. E não podia pensar em seu próprio apartamento? Não, aquele lugar o sufocava. Cheio de lembranças dela, e ao mesmo completamente vazio. Contradição . Como foi que eles haviam tomado direções tão contrárias? ...

Love only

E no final do dia, o que realmente importa é quanto amor você espalhou - e não em quais direções, ou quando, ou em que momento. Numa perspectiva maior, determinadas coisas não importam. Não realmente. Tudo se trata de atingir e se permitir ser atingido - no sentido bom da palavra. Não olhe a direção. Apenas ame.

História de amor secreta

Ele tinha pouco tempo, e precisava correr. Já estava amanhecendo e a garota de vermelho estava indo embora com seu vestido que arrastava pelo chão. Ela saía pela porta, e ele precisava vê-la antes que o Sol surgisse, porque aquele era o momento, e eles tinham poucos segundos antes de a multidão se aglomerar. Tudo dependia do quão rápido fossem, porque o tempo nunca mudava - era sempre antes de o Sol aparecer, no momento exato em que estava escuro o suficiente para não serem vistos. E eles precisavam ser silenciosos. Ele já estava ofegante quando chegou no beco daquela noite - o lugar sempre mudava - e suspirou de alívio ao ver o vestido brilhante caminhar, a passos lentos, em sua direção. Suas mãos se entrelaçaram - era perigoso, mas doía quando não estavam juntos. Ele a apertou contra si, inalando seu cheiro, numa tentativa de memorizá-lo, preparando-se para o pior, porque nunca se sabia quando podi...

Sem volta

Sem volta (ou Conto baseado em Cherry Wine, ou A história dos olhos insanos, ou Os sapatos barulhentos ou Tempestade). Caminhava rapidamente, seus sapatos altos fazendo, no asfalto, o barulho que ela temia. Só queria ir pra casa, mas não se lembrava do caminho. Não se lembrava de nada, e tudo estava sempre tão escuro, que já não era possível enxergar além da penumbra. Ela só queria fechar os olhos, mas havia cinzas por todo o lado, então passou a mão por seu rosto, os esfregando, e seus dedos sangraram o que não conseguia limpar. A rua estava escura, como a casa. Não a casa da qual ela se lembrava, mas a do fim daquela rua escura e silenciosa, onde tudo parecia fazer barulho demais. Por isso ficou em silêncio, amaldiçoando não ter escolhido outros sapatos, e caminhou mais devagar, porque não queria chegar. Fazia três dias que estava caminhando. Três dias, algumas horas ou simplesmente uma porção de minutos. O tempo passava rápido, ou devagar demais. Não sabia dizer, mas seu coração...

Eu sou uma garota

Eu sou uma garota, E já ouvi que precisava emagrecer. Eu sou uma garota, E já usei o vestido vermelho errado. Eu sou uma garota, E minhas roupas já estiveram muito curtas. Eu sou uma garota, E minha maquiagem já chamou atenção demais. Eu sou uma garota, E deveria ter me maquiado ao sair de casa. Eu sou uma garota, Que já esteve tão mal-arrumada . E eu sou uma garota, E já estive 'arrumada demais'. Porque as garotas sempre fazem besteira: Andam nas ruas depois da meia-noite Com saias coladas e batons vermelhos O andar provocante e os olhares de culpa. Porque as garotas sempre fazem besteira: Viajam sozinhas - loucas descuidadas! Saem de casa e o dia nem clareou Dançam, perfumadas, querem atenção! Porque as garotas sempre fazem besteira: Não usam maquiagem, não se depilam! Não saem de casa e querem namorado Falam besteiras, não sabem o que dizem. Porque as garotas sempre fazem besteira: Provocantes, culpadas, merecedoras ! Falam demais, falam de menos, ...

Sem ar

Respire. - perdida numa imensidão de nada. Respire. - eu tenho sombras em minha cabeça. Respire - como um ponto final no meio da. Respire. - n'algum lugar no meio do caminho. Respire - eu procuro pelas luzes gritantes. Respire. - e a casa nunca pareceu tão longe. Respire - onde eu estou? Onde você está? Respire. - flutuando nas órbitas brilhantes. Respire. - tentando achar o caminho de volta. Respire. - e entender onde foi que me perdi. Respire. - como posso ter eu mesma de volta? Respire. - como posso saber que parte quero? Respire. - perdida numa imensidão de gente. E nada. Respire. Pausa. Sorria. Respire. Siga.

Eco

Você faz eu me sentir errada Com seus óculos esfumaçados Que refletem o que você não vê. Você borra todas as imagens E eu me vejo cercada por sombras Que sem filtro ecoam suas verdades. Você arranca cada pedacinho E suprime todo o som que grita - as vozes que saem de mim mesma Até eu me calar. Como se cada parte de mim não devesse sequer existir, Você as pisoteia e destrói E me vejo cercada por nada. Como um saco de plástico velho Calada, sozinha, descartável Você não me vê, não de verdade Com seus óculos esfumaçados E suas garras ensanguentadas - e me vejo cercada por nada. Mas nós conhecemos a verdade - por trás das lentes empoeiradas Nós sabemos: não estou sozinha E posso levantar a voz. Porque nós sabemos a verdade: Não se trata de uma luta justa Mas eu posso ser a voz que ecoa E nós podemos ser muitas. - nós podemos ...

E então eu caí (ou Poema sobre a parede azul)

Você não me contou sobre o vento frio Ou os sinos que batiam na janela Você não me disse que haveria noites com paredes coloridas de azul. Você não me contou sobre o silêncio Ou os muros que eu não podia ver Você não me disse que eu estaria Na sombra e na luz, sozinha no caos. Você não me disse Você não disse Mas eu soube. Você não me falou sobre as janelas, Os desenhos, trancas e fechaduras. Você não me falou sobre o começo, O vazio, os domingos e o fim. Você não me falou sobre as pessoas, os passos e histórias pra dormir. Você não me disse Mas agora eu sei. E então eu caí.

Sobre o ciclo vicioso da desnecessariedade.

Nós não precisamos gostar uns dos outros - não há um código sobre isso. Tão pouco precisamos ser melhores amigos ou puxar assunto quando nos encontramos. Também não há um código sobre isso, mas acho que há algo sobre respeito e, mais relevante ainda, sobre não ser desnecessário . Não sei se essa palavra faz sentido, mas, ao (re) pensar sobre minhas relações com as pessoas que conheço, e sobre suas respectivas relações com os outros, tenho me questionado bastante sobre o que nos faz, em alguns momentos, sermos tão desrespeitosos uns com os outros ou, pior ainda, tão extremamente desagradáveis. Uma das coisas que mais me incomoda e, por isso, me policio, evitando fazê-lo, é julgar as outras pessoas sem conhecê-las. Não gosto quando falam sobre a minha vida, ou história, sem me conhecer, e por isso me incomodo quando vejo alguém fazendo-o em rela...

Apenas algumas linhas de uma história não contada

- O que foi? - eu abri os olhos, e ele ainda me encarava daquela maneira. Como se quisesse dizer algo importante. E suas mãos ainda estavam em minhas costas, quentes, por dentro de minha camiseta, desenhando lentamente de um jeito indescritivelmente bom. - Você é a melhor coisa que já aconteceu. Sabe disso, não é? - ele disse, baixinho, nossos rostos tão próximos que eu precisei fechar meus olhos para não ser muito óbvia. Porque senão ele saberia. O quanto eu realmente precisava dele, e eu não queria assustá-lo. Então, quando ele disse, como se estivesse com medo da minha reação - com medo de que eu me levantasse a qualquer momento, meu coração se apertou. Então era aquilo o que significava ser a melhor coisa de alguém. Então era aquilo o que significava ser importante. Fechei os olhos, encostando minha cabeça em seu peito, e se eu pudesse - se houvesse espaço o suficiente...

O texto de fim de ano que não escrevi

Os começos e os fins sempre vêm acompanhados daquele sentimento estranho de que algo está faltando. Como aquela tristeza, agridoce, por nenhum motivo remotamente explicável e o sentimento de esperança - de que as coisas vão, na melhor das possibilidades, se resolverem e tudo o que foi bom será ultrapassado, ou até substituído, por coisas novas e, na pior das hipóteses, a esperança de que nada será tão ruim quanto o que já passou. A nostalgia é um sentimento engraçado, e ela sempre está presente nos finais - e nos começos também. Nós sempre precisamos escrever sobre ela, porque independente de como tudo tenha dado incrivelmente errado num passado distante, ainda há a perspectiva de um horizonte mais azul. Talvez eu esteja sendo um pouco metafórica, e esse é um problema das coisas que escrevemos em momentos nostálgicos: elas vêm salpicadas de metáforas, e saud...

Banalizacão de termos e o conflito do politicamente correto.

Alguns meses atrás, ao assistir um documentário chamado "O riso dos outros" - lançado em dezembro de 2012 - que questionava os limites do humor, deparei-me com opiniões (minhas e de pessoas conhecidas) conflitantes em relação ao politicamente correto; o que me fez questionar não somente minhas próprias atitudes em si, mas também o significado delas. Lembro-me vagamente de o vídeo mostrar alguns questionamentos em relação à piadas sobre mulheres, negros, pessoas com necessidades especiais, homossexuais e pessoas que não se encaixavam no peso "ideal" estabelecido por determinados padrões de beleza; evidenciando o fato de que, às vezes, uma aparentemente simples piada carrega ideologias que precisam ser discutidas e até mesmo questionadas. O assunto foi levado para a sala de aula, e num determinado momento, um de meus professores questionou o uso da expressão "gordice", bem como "denegrir" e "judiar", o que levou a outros termos como ...