O relógio tiquetaqueava sem parar, misturando-se ao som dos pingos de chuva que batiam na janela. Ela gostava de chuva, mas o tempo passava tão devagar...e ainda nem era meio-dia.
Se pegou encarando a parede recém-pintada de seu quarto, que exibia o azul brilhante que comprara na loja do fim da rua. Não pôde deixar de se perguntar porque tudo parecia tão vivo. O vento frio que entrava pela fresta da janela e a fazia tremer, o tempo que parecia recusar-se a passar mais depressa e a parede brilhante. Talvez porque ela estivesse com sono. Com sono não - cansada. Cansada de abrir os olhos. Porque que alguém se cansa de nada? perguntou a si mesma, num misto do que pareceu um soluço e bocejo, e se encolheu numa bola. Estava tão frio. E claro. Ela precisava de um cobertor.
Engatinhou até o guarda-roupas, exausta demais para se levantar, e puxou sua manta velha, enrolando-a em volta de seu corpo, e se enrolando em volta de si mesma, e apagou a luz. Cobriu a cabeça, e então o quarto ficou como aquela segunda-feira: escura. Ela até diria silenciosa, mas os ponteiros do relógio ainda tiquetaqueavam irritantemente, e tudo bem. O silêncio às vezes a assustava. Encostou a cabeça na parede brilhante, deixando seus olhos brilharem também, como a chuva que caía fora da casa, e fez alguns lembretes mentais - lembretes gritantes, como sinos: respirar. Não gritar. Abrir os olhos. Respirar. Tudo bem devagar.
Então, tudo se dissipou. O relógio, a parede, a manta, o guarda-roupa, as janelas e a porta. Tudo o que sobrou foi o vento, e ela. E quando a chuva passou, e escureceu, fechou os olhos e abraçou a si mesma, tentando se espremer no pequeno espaço de seus braços; contou os segundos restantes, e adormeceu.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
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