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Banalizacão de termos e o conflito do politicamente correto.

Alguns meses atrás, ao assistir um documentário chamado "O riso dos outros" - lançado em dezembro de 2012 - que questionava os limites do humor, deparei-me com opiniões (minhas e de pessoas conhecidas) conflitantes em relação ao politicamente correto; o que me fez questionar não somente minhas próprias atitudes em si, mas também o significado delas.
Lembro-me vagamente de o vídeo mostrar alguns questionamentos em relação à piadas sobre mulheres, negros, pessoas com necessidades especiais, homossexuais e pessoas que não se encaixavam no peso "ideal" estabelecido por determinados padrões de beleza; evidenciando o fato de que, às vezes, uma aparentemente simples piada carrega ideologias que precisam ser discutidas e até mesmo questionadas.
O assunto foi levado para a sala de aula, e num determinado momento, um de meus professores questionou o uso da expressão "gordice", bem como "denegrir" e "judiar", o que levou a outros termos como "puta" e "bicha", por exemplo.
Acredito que neste momento - e peço perdão se estiver errada - você possa estar pensando algo como: "Mas e daí? É só uma piada. As pessoas levam as coisas a sério demais hoje em dia...". Digo isso porque vi/ouvi alguns comentários parecidos em relação ao assunto, e no momento é óbvio para mim que nunca se trata apenas de uma 'piada'.
É fato que todos já nos sentimos ofendidos com algo em algum momento de nossas vidas. E essa é a grande coisa sobre os limites do humor: sempre é algo sem importância, até que já não tem mais graça pra você - até você se tornar a piada.
Um dos termos que realmente me incomoda - e não só por eu estar me interessando bastante por algumas pautas feministas, mas por ter, atualmente, pensado bastante sobre o significado da expressão, é "feminazi". Me lembro de, após tê-lo ouvido pela primeira vez, ter ficado confusa em relação ao seu significado e ir pesquisar sobre na internet. Confesso que fiquei bastante surpresa, pois o termo, além de obviamente ter sido criado com a intenção de ridicularizar ou até mesmo deslegitimar o movimento feminista, mostra uma completa falta de leitura de quem o criou - ou dos adeptos a seu uso - em relação ao feminismo em si, e pior ainda, um total desconhecido em relação à História.
Além de a comparação com o nazismo - ideologia criada por Hitler e seguida pelo governo alemão - ser completamente sem fundamento, já que os nazistas pregavam a superioridade dos alemães (raça 'ariana') em relação a outras, prometendo restaurar o "orgulho de ser alemão", estes seguiram tal ideologia, um exemplo cruel do racismo, levando milhares de pessoas - entre elas judeus, homossexuais, negros e ciganos - à morte; o que não remete à semelhança NENHUMA com o movimento feminista, que prega a IGUALDADE entre os gêneros. Repito: nenhuma. O feminismo não mata, não exclui e não oprime, o que é bastante irônico se formos pensar no significado do termo "feminazi".
Este termo foi criado com o único e óbvio motivo de deslegitimar tal movimento, ridicularizando mulheres que buscam o que deveria ser um direito: a igualdade; o que leva-nos novamente ao fato de determinadas expressões carregarem ideologias que precisam ser desconstruídas. Um bom exemplo é a palavra "puta", bem como seus derivados ou expressões que carregam um significado parecido (como 'piriguete' e 'vadia'), que nada mais são do que um reflexo do machismo na sociedade, que classifica as mulher entre "para comer" e "para casar", evidenciando o fato de a sexualidade da mulher ainda ser vista como algo ruim, sujo.
É não é só isso. O exemplo "gordice", já citado anteriormente, evidencia o fato de pessoas que não se encaixam no padrão de "peso ideal" serem ridicularizadas, e o termo "negrice", bem como " denegrir", por exemplo, mostram o preconceito - ainda existente - em nossa sociedade, que oprime e silencia o negro.
Creio que existem outros exemplos - que não me lembro no momento, mas que merecem ser questionados e discutidos, afinal, todo discurso carrega uma ideologia "por trás", e vale a pena pensar no fato de que, como evidencia o documentário O riso dos outros, a sua liberdade se encerra onde começam os direitos do outro, o que nos remete ao fato de que a exploração e opressão das minorias não é, e nunca deveria ser, motivo de piada.

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  1. créditos da imagem: https://umhistoriador.wordpress.com/2012/12/27/o-riso-dos-outros/

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