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Eu sou uma garota - parte 2

Sobre como a recente descoberta do movimento feminista me ajudou - tem ajudado.

Eu sempre tive problemas com minha aparência. E era algo constante - aquele ciclo vicioso e doentio das coisas que nos são impostas e ditas até que, num certo momento, você percebe que odeia uma série de coisas em você. Sua pele, as espinhas, seu cabelo, seu corpo, seu sorriso, seu peso - qualquer uma dessas coisas, ou todas elas, juntas. Eu não fugi disso. Me pegava procurando defeitos, coisas para odiar em mim, e era horrível. Eu me sentia horrível.
Eu sei que muitas pessoas questionam o porquê de o movimento feminista existir, e eu também sei que eu poderia citar diversos motivos que justificariam - e muito bem - sua existência. Não que eu ache que seja necessário fazer alguma justificativa, mas acredito que o que eu disse anteriormente pode ser uma delas. Eu realmente acredito.
Sei que não sou a única pessoa no mundo que já odiou sua aparência, e obviamente, não sou a única mulher que já se sentiu assim. E essa é a coisa.
Eu me lembro perfeitamente de todas as incontáveis vezes em que dei mais valor à opinião de outras pessoas sobre mim do que ao modo como eu mesma me enxergava. Eu já deixei de dizer/fazer coisas com medo do que pensariam de mim - do julgamento que as pessoas fariam. Percebe como isso é tóxico? Como soa horrível? Porque é.
E eu não sou a única, nem de longe. Todas nós já tivemos, em algum momento, nossas segurança e confiança quebradas. E é por isso que acho o feminismo importante - e esse é só UM entre outros motivos. Eu realmente acredito que as mulheres devem apoiar umas às outras - nós precisamos disso. Precisamos ficar, lado a lado, e sermos fortes. Juntas. Agora eu entendo o quanto essa coisa de empoderamento é importante é necessária.
Confesso que não foi fácil mudar o modo como eu me enxergava, e não foi rápido, mas o feminismo ajudou, e bastante. Quando eu percebi que não precisava ser assim - que eu não precisava odiar minha aparência, que, na verdade, não havia nada de errado comigo, e que eu sou importante, e tenho liberdade pra fazer/ser o que quiser - bem, isso mudou as coisas. Me fez questionar uma série de atitudes - minhas, e das pessoas ao meu redor também.
E agora eu me sinto... diferente.
Então, sim, eu realmente acho que devemos nos respeitar e apoiar - divulgar toda essa coisa do movimento para que mulheres que não o conhecem tenham acesso a tais informações. Mulheres não precisam ser inimigas - nós não precisamos nos odiar, e foi ótimo perceber isso. Libertador, eu diria. Na verdade, nós devemos nos ajudar. Nós podemos. Então vamos fazer isso.

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