Ele tinha pouco tempo, e precisava correr. Já estava amanhecendo e a garota de vermelho estava indo embora com seu vestido que arrastava pelo chão. Ela saía pela porta, e ele precisava vê-la antes que o Sol surgisse, porque aquele era o momento, e eles tinham poucos segundos antes de a multidão se aglomerar.
Tudo dependia do quão rápido fossem, porque o tempo nunca mudava - era sempre antes de o Sol aparecer, no momento exato em que estava escuro o suficiente para não serem vistos. E eles precisavam ser silenciosos.
Ele já estava ofegante quando chegou no beco daquela noite - o lugar sempre mudava - e suspirou de alívio ao ver o vestido brilhante caminhar, a passos lentos, em sua direção. Suas mãos se entrelaçaram - era perigoso, mas doía quando não estavam juntos. Ele a apertou contra si, inalando seu cheiro, numa tentativa de memorizá-lo, preparando-se para o pior, porque nunca se sabia quando podia não amanhecer.
Ele sentiu as mãos frias aproximarem-se do seu rosto, e fechou os olhos, deixando os lábios dela guiarem-no, porque eles tinham poucos minutos, e ele precisava daquilo. Ele precisava dela, e por alguns segundos, tudo desapareceu. O silêncio da rua escura deixou de ser assustador, o adeus de mais tarde deixou de doer antecipadamente, o frio não se tornou mais tão incômodo e o medo, quase foi esquecido. Apenas por alguns segundos, tudo o que importou foi aquilo: as mãos dela em seu rosto, e os lábios que sorriam junto aos seus.
Ele abriu os olhos, e ela murmurou algo ininteligível, o encarando, mas eles não precisavam de palavras - elas eram perigosas demais. Ele sabia o que ela queria dizer, e também sentia. Ele queria gritar, mas não podia, então só a encarou, sabendo que o adeus estava próximo. Porque? Ele era dela. E ela era dele. Porque? repetiu em sua mente, com as outras milhões de perguntas não respondidas que tiravam seu sono.
Os olhos da garota de vermelho brilhavam, e ele se afastou antes que seus soluços fizessem barulho demais, porque a rua estava silenciosa, e logo amanheceria. Eles não podiam arriscar.
Então os sinos da igreja bateram, e ele a puxou para perto, sussurrando em seu ouvido que a amava, mas a soltou antes que fosse tarde demais para os dois. Porque já estava amanhecendo, e logo o Sol surgiria. Eles não podiam ser vistos, ou então tudo seria noite.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
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