Você não sabe que ama uma pessoa até que isso te atinja - como um raio de calmaria, tão óbvio sobre sua cabeça que você se pergunta como não o notou antes.
Lily sempre me perguntava silenciosamente se eu a amava, como quando eu a pegava me encarando com aqueles olhinhos - como se eu fosse a garota mais incrível do mundo todo - e parecia prender o ar, como se segurasse palavras que não podia dizer. E eu queria dizer de volta (eu realmente queria) mas aquilo não seria justo, porque não era completamente verdade, e se eu fosse dizer aquelas palavras para alguém, seria com absoluta certeza, porque amor é uma coisa grande demais pra se dizer mais ou menos.
Não sou uma pessoa horrível - nós poderíamos aqui discutir o sentido dessa palavra, e toda a questão moral ou religiosa que a dita, mas não acredito ser essa a grande questão. Mas, se faz diferença, não sou a vadia egoísta que usa uma garota incrível como estepe - Lily está bem longe de ser isso pra mim, e se eu fosse amar alguém, com certeza seria ela, porque, céus, ela é o tipo de garota que qualquer um agradeceria aos céus, ao Instagram, ou, no meu caso, à melhor escola pública do nosso município, por conhecê-la.
Eu sabia que era uma garota de sorte. Lily era divertida, inteligente, o tipo de pessoa consciente do que acontece ao seu redor, e que não tem medo de sair em defesa daqueles que não podem se defender. E ela era bonita. Aquele cabelo, e os olhos, e sua pele (eu poderia beijar cada pedacinho, o que eu faria, se ela não se dobrasse de rir cada vez que meus lábios se aproximassem de sua perna). Eu tinha sorte de tê-la em minha vida, e sabia que Lily sentia o mesmo. Era uma relação saudável - nenhuma de nós duas era do tipo ciumenta ou possessiva, nós apreciavámos a companhia uma da outra, o sexo era ótimo, e eu estava feliz. Exceto que não parecia ser o suficiente - Lily sempre estava me lembrando de que o que eu sentia não era o bastante, mesmo que ela não precisasse dizer isso. Sempre me lembrando o quanto eu precisava fazer mais, e ela não era do tipo reclamona, mas eu via isso em seu olhar - na carinha de decepção que ela tentava esconder quando eu não agia conforme o script em sua cabeça. E aquele era justamente o problema: Lily não me amava.
Deixe-me explicar. Às vezes, ela me amava demais - como quando aparecia cheia de saudade quando ficávamos sem nos ver, ou como quando foi até a farmácia do outro lado da cidade para me comprar o remédio que eu precisava, ou quando me surpreendeu com todas aquelas flores, e eu senti um calorzinho tão grande em meu peito, porque aquela era a coisa mais linda que já haviam feito pra mim, ou quando ela olhava com admiração pra cada parte do meu corpo - mesmo eu estando consciente de minhas próprias imperfeições.
Eu sabia que Lily me amava, mas às vezes ela não o fazia. Como quando não entendia que eu precisava de espaço pra mim mesma - apenas algum tempo, que poderia ser uma hora ou o final de semana todo - para colocar minha cabeça no lugar, assistindo qualquer porcaria na televisão ou brincando com meus gatos, e ela me fazia sentir a pessoa mais insensível do mundo por não querer vê-la; ou quando ela precisou tanto de mim e não pareceu ver que aquilo era demais pra se pedir a alguém, e aquele era o outro problema: me amar não era um complemento para Lily - era sua vida toda. E acontece que aquilo era muito pressão pra mim - ser a vida toda de alguém, como se qualquer erro pudesse fazê-la desabar, e minhas mãos seriam as responsáveis pelo intenso jorrar de sangue.
A questão é que Lily e eu nos amávamos, mas não do jeito certo, e quando me dei conta daquilo, todo o meu coração se partiu como que antecipando a dolorosa saudade que viria. Eu sabia que poderia continuar com aquilo - ela não teria coragem de sair, mas eu não podia. Porque nós acabaríamos nos odiando, e eu não suportaria ver o ódio naqueles olhos que gritavam que ela faria tudo por mim.
Então deixe-me fazer isso por nós duas, foi o que minha mente repetiu o caminho todo, o tremer de minhas pernas fazendo-me esquecer de todo o discurso que eu havia planejado. Visualizei um esquema em minha cabeça, com todas as principais palavras que eu não podia esquecer, mas quando ela se aproximou, com seu shampoo de lavandas e o sorriso mais lindinho que eu já havia visto, eu quase me esqueci de tudo, e aquela era parte do problema - nós sempre nos esquecíamos, até eles retornarem do beijo onde haviam sido enterrados, e nos atingirem em cheio, aos montes. Eu quase me esqueci de tudo, mas naquele momento Lily me lembrou, quando ela, subindo o olhar dos seus all stars cor de rosa direto para o meu rosto, disse, com sua vozinha determinada se quebrando no final: nós precisamos parar. E então eu soube.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
Comentários
Postar um comentário