- em direção a mim mesma
Lembro de me sentir orgulhosa de mim mesma naquela noite, e depois de alguns segundos rir, porque aquele era um motivo bem bobo pra se ter orgulho de si mesma. Lembro da felicidade instantânea que veio com a percepção de que eu estava bem e de que eu não precisava de nada daquela maquiagem para parecer bem - nem do protetor com efeito matte que foi comprado com uma desculpa de proteger minha pele dos raios solares, quando eu claramente não dava a mínima para aquilo.
Aquele era um motivo bobo para ter orgulho de mim mesma, mas pra quem costumava ficar irritada e triste porque estava se sentindo tão horrível que quase não queria sair de casa, bem ... já era um grande passo. Era um motivo bobo mas, ainda assim, me alegrei, porque um conjunto de motivos bobos pode virar uma grande coisa - eu disse a mim mesma.
Também me senti feliz quando percebi que já não precisava ceder à coisa de passar um ferro quente no cabelo, que me fazia soar litros, todas as manhãs - mecha por mecha - antes de ir à escola, até ele parecer aceitável e, ainda assim, não me sentir bem o suficiente com o resultado.
Me sinto extremamente orgulhosa quando percebo que uso shorts, vestidos, saias e regatas e exibo meu corpo de dias - às vezes semanas - sem depilação e, ainda assim, não sinto vergonha por alguns instantes.
Me sinto animada quando percebo que estou há dias sem usar o remédio para espinhas e, ainda assim, minha pele não me incomoda tanto.
Pequenas vitórias, eu digo a mim mesma, me lembrando da garota que mal conseguia se olhar no espelho sem fazer uma lista mental de quantas coisas pareciam erradas - da garota que não conseguia encontrar nenhuma certa.
Me sinto feliz quando percebo que não sinto vergonha do meu corpo, porque me lembro da garota que, mesmo estando dentro dos padrões relacionados ao peso, sentia que não era o bastante - sentia que não chegava nem perto.
Me sinto feliz quando percebo que gosto dos meus peitos e que as estrias já não são mais uma grande coisa - nem chegam a ser uma coisa.
Na maioria dos dias, eu quase gosto demais de tudo, e isso me assusta, porque me lembro da garota que só conseguia achar coisas para não gostar - e elas pareciam tão grandes que eu sentia que podiam me engolir, pedacinho por pedacinho. E elas engoliam, tão violentamente que às vezes parecia não sobrar nada bom.
Me sinto orgulhosa de mim pelos vários quases que acumulo no que se refere ao amor-próprio, e ainda assim não posso deixar de me perguntar quantos quases são necessários para ser amor - de quantos eu preciso pra chegar na parte em que eu consiga gostar tanto, mas tanto de mim mesma que eu conseguirei acreditar de verdade que há algo para ser gostado por alguém. De quantos quases eu preciso para nada mais importar?
Ainda me pergunto quantos passos são necessários pra se chegar na largada, porque, às vezes, sinto que caminho em círculos, como quando me deixo, por breves instantes, ser assombrada pela vozinha que ri da ideia de que existam muitas e muitas coisas boas, que possam ser amadas.
Às vezes sinto que nós somos tão fortes o tempo todo - sempre lutando contra todas as vozes que viveram e vivem nos dizendo o contrário - que não podemos desmoronar. Mas acontece.
Às vezes caminho quilômetros num mesmo dia e, em outros momentos, sinto que me movi minimamente - e nem sei em qual direção.
Ainda surgem momentos em que me pergunto quantos passos são necessários para se chegar na largada, até me lembrar que às vezes você precisar começar tudo de novo - toda a caminhada cheia de pedras e tropeções, e repetir pra você mesma todas aquelas coisas que já sabe, todos os pequenos motivos de orgulho que soam tão bobos ao ouvido.
Então também me lembro de que não tem problema fazer algumas pausas - às vezes caminhar cansa, e repito a mim mesma que não posso voltar para trás.
Às vezes caminho quilômetros e, outros dias, apenas um passo já parece bom - mas sempre me lembro de que precisamos continuar caminhando. Nós precisamos continuar caminhando.
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