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Carta aberta

- a todos os amantes desesperados, corações solitários, quebrados e desiludidos, dedico esta carta a vocês: (Que possamos fazer companhia uns aos outros nas sessões chorosas de romances clichês e canções de amor ruins).

Alguns tipos de amor mudam você -completamente, e vão embora, assim como chegaram, em seu próprio horário, sem qualquer tipo de preparo ou aviso. Eles chegam como fogos de artifício e se vão silenciosamente, deixando um enorme vazio em você, porque a verdade, sobre o amor, é que ele pode ser eterno - até não ser mais.
É difícil admitir pra si mesmo que as coisas chegaram ao fim, principalmente quando elas não acabaram pra você - quando seus sentimentos e lembranças ainda estão ali, à espreita, esperando qualquer momento para emergir (e eles o fazem, quando você menos espera, e te afogam completamente).
Alguns tipos de amor mudam você, e sem aviso vão embora, em seu próprio horário de partida. Eles te deixam para trás, com o coração quebrado e uma mochila cheia de memórias agridoces, que te partem e acalmam, e um montão de perguntas sem respostas, que acabam te enlouquecendo - no meio da noite, no meio das aulas, no meio dos transportes públicos ou do expediente.
Inicialmente você se pergunta se pode consertar as coisas, e então cria em sua mente uma série de situações hipotéticas em que tudo fica bem. Situações em que vocês resolvem todos os problemas e, como uma espécie de máquina do tempo, voltam para o momento mágico em que as coisas funcionavam.
Então você percebe que é tarde demais - que as rachaduras são muito grandes para serem coladas, e começa a se perguntar quando foi que as coisas deram errado - você repassa cada detalhe daquela história em sua cabeça, tentando entender o que poderia ter sido feito de maneira diferente. Você se pergunta quando foi que tudo se tornou impossível de ser consertado - como foi que vocês passaram de todas as luzes à completa escuridão, e como foi que você não percebeu cada raio se apagar lentamente.
Você se dá conta de que não pode responder a essas perguntas - que, talvez, nem sequer exista uma resposta pra elas, porque não dá pra se teorizar sentimentos, principalmente se não forem os seus. Nós nunca vamos entender completamente o que se passa na cabeça - e no coração - do outro.
Você percebe que, às vezes, amores eternos não duram pra sempre - não no sentido literal da palavra - mesmo que eles tenham pintado alguma corzinha em seu coração, com tinta definitiva. Você percebe que nós não podemos controlar os sentimentos e vontades da outra pessoa - que não dá pra obrigar alguém a ficar, por mais bonito e incrível que o lugar que vocês tenham construído pareça. Você percebe que precisa deixar ir, e essa parece a coisa mais difícil do mundo porque, caramba, como abrir mão de algo tão bonito? Como abrir mão do tipo de amor que te consome e acende? Como abrir mão do amor da sua vida - que são apenas alguns vinte e poucos anos, mas, quem liga?
Todos queremos encontrar o amor de nossas vidas. Aquela pessoa que apareça em nosso caminho e mude tudo o que sempre achamos saber sobre o amor, e às vezes nós encontramos, mas elas resolvem partir. E dói - eu sei. O grande problema dos términos é que eles não acabam de uma vez. Eles tiram pedacinhos, quando você menos espera, e te dobram. O problema sobre os términos é que eles não parecem terminar - não de uma vez.
Como uma garota de 20 anos que já se apaixonou loucamente, eu sei. É difícil abrir mão de sentimentos tão bonitos, e é mais difícil ainda quando aquilo se parece muito com o grande amor da sua vida - com a sua pessoa (os fãs de Greys Anatomy entenderão); mas a verdade, sobre os amores, é que todos podem ser grandes, e não existe apenas uma pessoa certa - isso não seria muito justo. Porque se existisse, então a maioria de nós, que já mergulhou no tipo de amor que tira suas palavras (o que me inclui), estaria fadado a passar o resto de suas vidas sozinhos e infelizes. E eu não posso acreditar nisso - nem você.
Há algumas semanas, li um romance maravilhoso (que me destruiu), chamado Me chame pelo seu nome, em que um dos personagens dizia que nós passamos muito tempo tentando fugir dos nossos sentimentos - fugir da dor de um amor que acabou - e isso vai arrancando pedacinhos, vai nos deixando menos inteiros, até chegar o momento em que temos cada vez menos a oferecer em nossas próximas relações. E isso é horrível.
Todos nós queremos encontrar o amor de nossas vidas, e, às vezes, eles aparecem - e vão embora, sem que nós estejamos preparados. E dói, como o inferno, porque o problema das coisas boas é que, às vezes, elas acabam, quando tudo o que nós queremos é mais. Mas eu acredito no amor - eu preciso acreditar. Nós precisamos disso, porque, senão, qual seria o sentido de tudo?

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