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Morro dos ventos uivantes: uma breve carta de amor

"Toma a forma que quiseres, mas vem para junto de mim e me enlouquece" eu clamaria a seus fantasmas nas noites frias, e como Heathcliff, gritaria a todos os ventos seu nome, em tom tão alto que beiraria a insanidade.
Confesso, entretanto, que com ele tenho bem pouco em comum. Enquanto seu amor é raivoso e dolorido, como uma ferida que arde em brasas, nunca podendo ser alcançada; o meu é como o sol. Um delicioso sol de fim de tarde, tocando minha pele em chamas que me aquecem de prazer.
"Como posso eu viver sem a minha vida? Como posso eu viver sem a minha alma?" ele disse em prantos animalescos, quando lhe arrancaram importante parte de seu coração, vagando por um abismo escuro onde sua amada não podia existir.
Você acredita em Almas? Em qualquer substância que faça parte de nós mesmos e ultrapasse o plano físico?
Você acredita em fantasmas? Enquanto temo-os, Heathcliff os procurava em cada canto, rogando à Cath que o atormentasse.
Eu acredito que exista algo após aqui - uma espécie de Paraíso, eu espero, cercado por calmaria, mas tento não pensar muito nisso. Pra ser honesta, a morte ma assusta. Sei que quero viver a minha vida na terra da melhor maneira que puder - não como Heathcliff, sofrendo as feridas de um amor impossível, e nem como Cath, vagando numa indecisa e tênue linha entre duas vidas, por ser incapaz de deixar seu orgulho de lado. Não sou como eles. Diferente de Heathcliff, tenho medo de fantasmas. Ao contrário de Cath, não desisto do que amo.
Não sei nada sobre a vida após a morte, Almas ou Paraíso. Mas sei como quero passar minha vida na terra, e também sei que acredito que ela seria muito pouco sem amor.
Não sei se acredito nessa história de Almas gêmeas ou destino, porque me soa como uma decisão para além de nós, na qual o livre arbítrio inexiste. Mas eu acredito em conexão, e eu acredito no amor; e como Cath e Heathcliff, eu o sinto. Em cada parte do meu corpo. E que sorte a minha poder usufruí-lo! 
Não posso fazer as mesmas promessas de nosso incomum herói deste romance catastrófico, mas posso te prometer que te amo intensamente. E qualquer existência pra mim se assemelharia a uma mera miragem sem você por perto. Não vou evocar as falácias do romantismo e dizer que eu morreria, ou que minha vida seria uma eterna e miserável infelicidade a cada segundo. Mas sou completamente honesta quando digo que jamais experimentei tamanha felicidade como quando você está nela. 
Ter você por perto é como um presente, do qual pretendo usufruir todos os dias. Sei que minha passagem aqui na terra, signifique ela o que significar, é limitada (como a de todos os outros), inconstante e imprevisível. Mas sei que seria um grande prazer dividi-la com você por muito mais tempo.



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