Naqueles dias, odiei que todo tempo fosse, afinal, emprestado, porque tudo o que eu desejava era guardá-lo, lá no fundo, entrenós.
Sempre que penso sobre você me lembro daquela noite, estranhamente fresca num amontoado de dias quentes, e me pego repassando todos os detalhes em minha cabeça, numa tentativa de sentir novamente.
Me lembro de sua dor de cabeça e de minhas mãos. De seu cabelo e do emaranhado. De sua pele e do meu colo. Do seu abraço e de meus pensamentos. E me lembro dos seus olhos, tão acolhedores e quentes, que fizeram daquele silêncio o nosso silêncio.
Eu me lembro de pensar sobre a noite, sobre você, e sobre seus olhos - e como eles pareciam tão seus. Sobre como cada parte da sua totalidade era bonita e completamente sua. Sobre como somos seres únicos e extraordinários, espalhados num universo que não precisa de nós, com uma porção de tempo emprestado, e de alguma forma você quis compartilhar o seu comigo, e nunca tive um presente tão significativo.
Naqueles segundos, era como se todo o tempo parasse. Como se toda a imensidão se resumisse a nós. Como se seu abraço fosse tudo, e suas batidas o próprio Sol, me acendendo uma porção de estrelas.
Me lembro de olhar pra você e pensar que eu nunca tinha visto algo tão bonito; e não estou falando apenas sobre o conjunto, porque uma série de coisas parecem incríveis a uma certa distância, mas é só avançarmos alguns passos que toda sua beleza estonteante se dissolve. Algumas coisas prendem o nosso ar a alguns metros, mas quando nos aproximamos - quando realmente as olhamos - elas são apenas coisas, porque a grande questão sobre a beleza é prestar atenção, e eu poderia te olhar pra sempre. Ainda assim, sei que perderia o ar por alguns instantes.
Naquele momento, os segundos nunca me pareceram tão valiosos porque, às vezes, uma vida inteira pode fazer você amar alguém, mas naquele tempo, tão pequeno e tão grande, eu sei que te amei tanto. Eu só soube, como um clique que encheu meu coração. E era tão grande. Nós costumamos chamar uma série de coisas de amor - amontoados de cores e sentimentos numa mesma palavrinha que, única, carrega toda uma totalidade dos plurais que não podemos nomear, mas como eu poderia encaixar em quatro letras o que nem mesmo cabia em mim? E, ainda assim, o eu te amo tanto foi o que soou em meus pensamentos, a última palavra gritando em cada parte de mim.
Nós podemos chamar uma série de coisas de amor, mas naquela noite não pude nomear nenhuma delas, e ainda assim cada uma se instalou em meu peito, como se cada parte do meu corpo entrasse em êxtase, reconhecendo a grandiosidade, e eu soube. Eu quis, por alguns segundos, que você pudesse ler meus pensamentos, porque eu precisava que você soubesse. Eu precisava, e ainda assim não podia te explicar.
Sempre que penso sobre você me lembro daquela noite, e de como você fez eu me sentir em paz, como se o próprio céu fosse meu teto, e seu abraço todos os tons de azul.
Sempre que penso sobre você me lembro daquela noite, em que por um momento tive toda a imensidão, em seu mais belo esplendor, à frente de meus olhos. Sempre que penso sobre você me lembro daquele momento, tão maior e mais valioso que várias horas somadas, e sei
que embora todo tempo seja emprestado, aqueles segundos são meus, e em algum lugar da imensidão celeste continuam acesos.
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