Você faz eu me sentir viva - eu quis dizer, mas mantive as palavras em minha cabeça, com medo de assustá-la.
Nós estávamos perto - não perto o bastante - mas eu podia sentir o cheiro de seu creme, que me pareceu ótimo, e por alguns instantes, me perguntei como seria se eu me inclinasse apenas um pouco. Como seria beijá-la, de verdade - não apenas aquela coisa louca de quando estávamos bêbadas pra cacete, caídas na grama suja de uma festa da faculdade.
Será que ela me odiaria? pensei, com medo de estragar tudo. Porque aquela coisa me assustava - a ideia de gostar de alguém.
"Você faz eu me sentir tão divertida" eu quis dizer, pensando em todos os momentos em que ela fizera eu me sentir louca...e jovem, como aquela noite, subindo zilhões de escadas para chegar a tempo na última sessão daquele filme; mas, como todas as outras palavras, eu as guardei para mim, onde nem eu mesma poderia alcançar. Porque eu não queria pensar na alternativa.
- Eu beijo bem - ela diria mais tarde, quando ambas estaríamos cansadas demais para tentar fazer algo divertido, bebendo uma garrafa de algo barato no chão da avenida, com um sorriso brincalhão que a faria soar menos convencida, e eu tentaria pensar em algo inteligente pra dizer. Algo que não me fizesse soar uma pateta, como eu sempre parecia quando ela estava por perto - talvez uma piada, ou algo do tipo. Sim, isso soa ok, eu pensaria, mas sem encontrar as palavras certas, começaria a rir, tirando a seriedade de qualquer coisa que eu pudesse dizer, e ela me acompanharia.
"Porque você não me mostra?" eu pensaria em dizer, confiante como a antiga Mia costumava ser, mas acabaria ficando em silêncio, temendo as infinitas possibilidades de sua resposta. Sim, eu era a porra de uma covarde, e a perspectiva de nunca conseguir dizer aquilo me assustava. Me assustava pra caralho.
"Você faz eu me sentir tão colorida" - eu também cogitaria dizer - "como eu nunca pensei que pudesse ser", então me lembraria de como eu quase estragara tudo alguns meses antes, quando nós dançávamos como se não houvesse amanhã, o riso histérico pós-bebedeira misturando-se à música ruim, quando de alguma forma eu soube que era real. Todos aqueles sentimentos que me assustavam, quando nossos lábios se tocaram, e nós caímos na grama, e eu pensei que ela nunca estivera tão linda. Mas o dia seguinte chegara, e tudo foi esquecido então, se transformando num borrão tão confuso quanto aquela noite. E eu não queria lidar com aquilo de novo. Então eu guardaria as palavras pra mim mesma, deixando que a noite terminasse exatamente como havia começado: tranquila e silenciosa, em contraste com todo aquele alvoroço em mim - como se Plutão e Júpiter estivessem alinhados com a terra, e eu estivesse flutuando em todo aquele azul resplandescente.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
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