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O buraco azul

Querido Theodore Finch,

Você não é o primeiro personagem que me faz pensar nisso. Nic, Hanna, Alasca, Hayden, Violet, e muitos outros dos quais talvez eu já não me recorde, passaram na sua frente. Entretanto, este livro, de alguma forma, me deixou transbordando, repleta daquela sensação. A estranha melancolia acompanhada pela felicidade inexplicável, ou talvez ou contrário. Não importa. Pensar na morte sempre me deixa triste, e ironicamente, talvez um pouco menos do que pensar na vida. Porque as pessoas morrem? Ás vezes penso que esta é uma pergunta simples. Ao contrário do que queremos - e precisamos acreditar, tudo um dia chega, inevitavelmente, ao fim. Como se todas as coisas do mundo (inclusive, possivelmente, ele próprio) possuísse um prazo de validade. Ás vezes, dura segundos. Ás vezes, algumas horas. E outras vezes, um pouco mais.
Ainda existirão pessoas quando partirmos, e o mundo continuará aqui. Isso me faz pensar no quão pequenos devemos parecer em relação ao universo. Como eu disse, essa é uma pergunta simples. Se tudo que é bom durasse infinitamente, como o mundo conheceria outras coisas igualmente - ou talvez um pouco mais, boas? As coisas tem um prazo, Theo. Mas ainda assim, é triste pensar que as pessoas também.
Então vamos à pergunta difícil: porque algumas pessoas se matam?

Creio que meu limitado conhecimento não me permita responder esta questão, afinal, generalizar é, e sempre vai ser, um erro. Dados, estatísticas, porcentagens...isso não significa nada. Nós nunca saberemos com certeza o que se passa na mente de outra pessoa, porque somos como um turbilhão. Ás vezes, garoas frias, ou tempestades violentas. Raios levemente ensolarados, ou explosões impactantes. Eu sei, porque já as vivi, e estaria mentindo se dissesse que eu nunca pensei na morte. Já. Dezenas de vezes. Algumas delas, quando eu sentia como se estivesse sendo sufocada por minha própria mente, e o turbilhão que se passava nela. Outras, quando o vazio - que eu era, estava, ou havia me tornado, não me deixava respirar. Não sei em quais momentos realmente pensei nisso - desejei, por um instante, morrer; por que sinceramente não sei o que é pior:tudo, ou o nada. Mas não o fiz, e sei que nunca faria. Simplesmente, continuei, e não sei exatamente o motivo. Também não é simples perguntar a alguém porque ele vive. Afinal, se trata disso. Uma escolha. Por mais que, às vezes, nós acabemos nos sentindo como se não houvesse escolha, ela existe.

Porque continuamos no labirinto?
Ás vezes penso que alguns de nós somos um pouco esperançosos, sempre aguardando a tal subida da montanha russa, os dias melhores. O poço da imensidão azul, o Grande talvez, o tal manifesto, ou sei lá como chamem. Para você, Violet era a vida. Mas o que será a vida para os outros- o resto de nós?
Outras vezes, penso que continuamos apenas pela comodidade. Estamos estáticos, e talvez, a vida seja apenas algo que apenas continuamos levando. Como uma obrigação, ou algo comum. Talvez seja mais fácil pensar assim. A verdade é que me questiono bastante sobre isso. E alguns dias atrás, você me fez pensar ainda mais. Violet não pôde te salvar, e agora, novamente, me pergunto se a salvação realmente existe.
É possível consertar alguém, ou pelo menos ajudar a encontrar os pedaços? Gostaria de pensar que sim, mas talvez, isso nos torne, de certa forma, responsáveis uns pelos outros. E, Theo, isso é um perigo e tanto. Porque nenhum de nós sabe o impacto que causamos na vida de outra pessoa. Só percebemos tarde demais, quando perceber é inútil, e Miles sabia bem disso. Ou talvez Hanna esteja errada.
Talvez - e confesso que isso me assusta, não se possa salvar outra pessoa. Não dela mesma. Ás vezes, é uma bola de neve. Às vezes, o enorme labirinto sem saída, ou a busca infinita e sem resultados pelo Grande Talvez. Às vezes, a tal montanha russa. E outras, o fundo do poço azul.
Eu não sei o que leva alguem a desejar morrer. E também não sei o que se passa na mente de outra pessoa, e creio que nenhum de nós sabe. Nós não sabemos, Theo. Como salvar alguém. Como sobreviver à dias acinzentados. Como encontrar o grande manifesto. Como ser suficiente. Nenhum de nós sabe.
Mas eu sei, agora, que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa. A marca que deixamos no mundo -seja grandiosa, ou talvez uma pequena marquinha - é o que nos define.
E você, esse personagem inconstante -talvez tanto quanto Alasca -, adorável, e incrivelmente sexy, junto com o livro "Por lugares incríveis" causou um impacto e tanto. Sinto como se eu não pudesse, agora, ler livro algum.Todos me parecerão fracos perante algo tão...marcante.
Acho que nunca permanecemos os mesmos depois de ler uma boa história. E acho que nunca mais verei a vida, ou o azul da mesma forma.
Com amor,
T.

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