Numa folha azul de caderno
Rabisquei alguns de seus traços
Comecei por seus olhos
- castanhos, profundos, brilhantes
Mas seu olhar não parecia seu olhar!
Não. Talvez fosse o tom...
Colori então alguns espaços
Numa folha azul amassada
Tentei copiar seu sorriso
Comecei pelo canto da boca
- quente, macia, molhada
Mas não parecia sua boca!
Não. Talvez fossem os traços...
Preenchi então alguns espaços
Numa folha azul rabiscada
Tentei desenhar suas mãos
Quentes, minhas, macias
Comecei pela ponta dos dedos
Mas não pareciam suas mãos!
Não. Talvez fossem as linhas...
Terminei num terrível borrão
Numa folha azul de caderno
Tentei desenhar seu contorno
braços ombros cintura quadril pernas ponta do pé
Mas não parecia seu corpo!
Sem cores, sem curvas, sem luz...
Acabei com um desenho amassado
Peguei então minha aquarela,
papel borracha e purpurina
Arcoirizei toda a tela
Meus dedos, minhas mãos, suas linhas
Olhei meus rabiscos de perto
- seu rosto, seu corpo, seus traços
Cada parte parecia certa
Mas tudo soava errado
E quando o conjunto é mais que a soma das partes?
Desenhara seus olhos,
Seu nariz, sua boca,
Sua pele, suas curvas
- pintara você
Mas não era você!
Faltava a maciez de sua pele
A calmaria de seus olhos
O conforto de seu abraço
O ensolarar de seus beijos
Os incêndios de seus toques
A quentura de seu pescoço
Então numa folha azul de caderno
Tentei escrever um poema
Com métrica ritmo e rima
Mas faltavam-me palavras
Como descrever tudo o que me ultrapassava?
No papel não cabia
Não cabia em mim!
E cada partezinha
Transbordava assim:
Numa enxurrada de cores
Flores, sabores, amores
Rimas pobres no fim
De cada sílaba cantada
Em meu corpo desenhada
Como uma melodia que surge de antemão
e se sacode, se move, te muda, preenche
Cada parte: cada sílaba, palavra, verso e estrofe
Na mais poética paixão.
Pegue! Eu te estendo a folha em branco
E juntas escrevemos
Sem lápis, borrachas e gizes de cera
Quando você lentamente colore meu coração.
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