"(...) a tinta, as cores, a artista e o pincel"
Ela tentava incessantemente encontrar palavras que pudessem representar todas as sensações dentro de si mesma, que a faziam sentir como se pudesse explodir. Ou talvez chover. Uma chuva de fogos - seria aquela uma boa expressão? Não, não chegava nem perto. Talvez uma brisa flamejante...aquilo soava bem. Poético, até - poético também era uma boa palavra, mas tão abrangente...tudo parecia poesia. Tão... tudo - aquela também parecia boa.
Colocou todas no papel, e ainda assim faltava algo. Porque as palavras pareciam tão vazias em comparação ao céu que se abria dentro dela? Céu era uma boa metáfora, mas ainda não era suficiente. Anotou, de qualquer forma. Se pudesse apenas chegar mais... perto. E se houvesse palavras suficientes...bom, talvez ela pudesse inventá-las, como seu próprio dicionário de sensações. Parecia uma ideia genial, mas para aquilo ainda precisava de palavras. Palavras para descrever palavras para rascunhar sentimentos. Aquilo era tão confuso!
E porque precisava tanto das palavras? Porque ela queria deixar tudo voar, antes que seu corpo explodisse de tantas...tantas...tantas o que? Céus, aquilo a estava deixando louca. Como se ela tivesse centenas, talvez milhares, de cores em seu peito, suas mãos, seu cabelo, seus lábios, sua saliva - toda parte de seu corpo, e talvez até as que talvez não pudesse nomear - que precisavam ser externalizadas. Sim, precisava passá-las para o quadro, como se ela fosse uma espécie de pote de tinta. E sua mente seria... o pincel? Porque aquilo era tão difícil? suspirou, irritada por as palavras serem tão poucas. E rasas - insuficientes para definir com exatidão o que estava sentindo.
Rasgou seus poemas pensando que não passavam de meras representações idiotas de uma realidade que não podia descrever, e então colou os pedacinhos, pensando que talvez pudesse querer relê-los mais tarde, como lembranças de uma descrição inexata de tudo aquilo.
Colocou a folha rasurada em sua cama, pensando que agora aquilo já não era uma mera representação idiota de uma realidade que não podia descrever, porque estava modificada. Assim como ela estava, em comparação a alguns segundos atrás. Ainda se sentia como uma brisa flamejante, talvez até poética. Como - aquela era sua grande questão. Mas agora ela precisava de palavras novas para representar a representação que tentara fazer mais cedo. E ela estava transbordando tanto... transbordando era uma boa palavra, porque significava excesso, e excesso era uma boa palavra, porque significava bastante. Ela se sentia bastante...que ainda era uma droga de palavra rasa. Ah. Eureca! Ela se sentia...ah. Talvez suas representações de uma realidade que não podia descrever precisavam daquilo... entonação.
Então ela gritou - o mais alto que pôde, até sentir sua voz falhar - esperando que aquilo fosse suficiente, e pôs-se a gargalhar até sua barriga doer e seus olhos lacrimejarem. De repente, tudo - des - fez sentido.
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