Eu acabava de sair da estação de trem, cansada pela longa viagem, e ainda sonolenta devido ao horário, quando percebi que chovia. Por sorte, ou talvez pelos avisos frequentes de minha mãe que me fizeram comprar um guarda-chuva novo, eu não o havia tirado da bolsa.
Caminhei apressada por cerca de 10, ou talvez menos, minutos , até perceber que meus pés estavam molhados. Tudo bem, isso é um puta de um eufemismo. Eles estavam encharcados. Meus tênis favoritos pareciam a própria poça d'água.
Culpei a chuva e o fato de a faculdade ficar longe da estação de trem por alguns segundos, até perceber que, na verdade, a culpa era inteiramente minha. Aquele era o sapato que mais gostava, e eu, com minha estranha mania de precisar escolher objetos favoritos, e usá-los até estarem inutilizáveis, levei-me àquela situação de pés frios numa manhã chuvosa.
É engraçado, e talvez um pouco irônico, como temos dificuldade em desapegar das coisas velhas, até mesmo quando elas já não servem mais. Às vezes, pra pessoas como eu, é preciso que uma chuva forte caia, deixando algumas poças no caminho para perceber que o sapato já estava furado há muito tempo.
Amanhã usarei algum outro par de all stars, e confesso que eles possivelmente me parecerão estranhos por alguns dias - como se não estivessem combinando, ou não coubessem direito. Depois, eu me lembrarei o quanto meu sapato antigo era confortável, e lamentarei aquela chuva idiota que me fez deixá-lo de lado - para tomar poeira no armário velho - e substituí-lo. Eu também reclamarei da efemeridade das coisas por um pouco.
E depois deixarei tudo para lá e caminharei com meus irritantes sapatos novos - que até não me parecerão mais tão ruins.
*Imagem meramente ilustrativa.
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