Ana sempre me dizia que queria modificar o tempo, e com toda a magia na ponta de seus dedos, eu não duvidava que pudesse. Uma noite, ela me pediu para fechar os olhos, segurou minha mão junto a sua, e sussurrou no canto do meu ouvido um amontoado de descrições desorganizadas, tão aceleradas como as cenas de um filme pra lá de confuso. Isso é tão estúpido, penso nos primeiros segundos, cedendo então à brincadeira, porque Ana sempre mergulhava profunda e loucamente nas minhas. Em alguns segundos, me vejo observando duas desconhecidas no centro de um vagão, e reviro os olhos às suas risadas vergonhosamente histéricas. - O que foi? - uma das garotas, a de camisa de gola alaranjada, olha para baixo, recuando timidamente enquanto a outra toca a lateral de seu rosto com suavidade, como se nada mais existisse em todo aquele trem barulhento. - Eu só quero olhar pra você - a garota das tranças brancas a encar...
Você é como uma brisa de ar fresco em um dia quente Como uma cama aconchegante nas noites frias E braços convidativos em um mundo escuro. Uma taça de champanhe em uma noite feliz, O ar que toca meu rosto em nossa dança, O cheiro verde de grama que me inunda O som de chuva quando estou em casa. Você é a intensidade e a calmaria Doce, quente, boa e minha O rebuliço e o suspirar De toda a calma, bagunça, frescor e lar Bruto, sonoro Tocante, urgente Preciso e estrondoso Sem precedente. Doce Que tira o ar E acalma Me faz suspirar, Aquece minha alma O mundo é estranho. Às vezes, cansativo e cruel. Não sei porquê estamos aqui. Se existe inferno ou céu. Mas sei que sou amada, e amo, com cada nota que ressoa em mim. Com cada parte de meu ser, sem fim. Sem começo, sem espera. Quando estou com você, posso ser verdadeiramente O que for, o que era O que sou, o que virá Existo, e tenho amor E amo, com tudo de mim Com tudo o que há.