Nós estávamos cercados pelas portas do seu quarto, nenhuma estrela podendo ser vista no teto escuro a que miravam nossos olhos, mas eu podia jurar que todo o universo parecia estar ali.
Apenas duas entre milhões de pequenas engrenagens que por acaso apareceram num universo que não precisa de nós, e um dia irão desaparecer, porque tudo são ciclos, você disse, em uma de suas perspicazes observações que me pareceria salpicada por uma pontada de tristeza, não fosse o tom constatativo que carregava. Pequenas engrenagens trabalhando para uma grande máquina que em alguma porção de anos acabaria numa rápida explosão ou numa ruína de gelos.
- E se não existir sentido nenhum, pelo menos eles saberão meu nome - você disse, em sua constante busca pela não- mediocridade, sabendo que em algum momento faria algo grandiosamente digno de ficar eternizado para os que ainda existiriam.
No seu grande adorar por coisas grandiosas, você me disse que gostaria de ser lembrado, e eu soube que seria. Todos os dias, nós deixamos milhões de pequenas marcas - como pegadas pelo caminho a lugar nenhum, que em algum momento serão substituídas devido à patética rotatividade da vida; e talvez nossos nomes sejam apenas mais um nome, perdido em algum lugar que um dia existiu. Ainda assim, em algum momento, nós estivemos ali - existindo no mesmo espaço/tempo que um montão de outras pessoas que nunca conheceremos completamente, cujos universos de alguma forma estarão marcados por nós.
Eu preciso acreditar nisso, você disse, desejando deixar uma grande marca nesse lugar ao qual chamamos de Terra, mas pra mim, mesmo que todas as outras pequenas engrenagens não se lembrem do seu nome em uma porção de anos, eu adoro o fato de que, entre milhares delas, em um conjunto incógnito de tempo, eu estava dividindo o meu com você.
A verdade é que eu nenhum de nós sabe que marcas deixará ou quantas pessoas se lembrarão de nós. Nós não podemos controlar o modo como seremos lembrados - qual parte do inexplicável conjunto de nós mesmos resistirá durante uma porção de tempo chamada eternidade. Nós não podemos escolher se lembrarão de nossos nomes e do que fizemos ou do tom exato de nossos olhos e da quentura de nossas mãos, porque nós estamos constantemente causando mudanças (mesmo que mínimas) em existências alheias.
E eu sei que não sou tão grande quanto todas as pessoas juntas mas, se isso importa, nesse exato espaço de tempo, você deixou uma marca gigantesca em mim - em cada parte do meu universo.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
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