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Sobre as cores de seus olhos

- Mag. - ela segurou meu rosto com as duas mãos, seus olhos fixos em cada centímetro dos meus, como se não existisse nenhum segredo que não pudesse ser lido. Olhe pra mim, ela pediu, chegando ainda mais perto, sem nenhuma pitada de medo ou insegurança, e por vários segundos a admirei, como se cada parte daquele rosto tivesse como único motivo de existência o enlouquecer de meus olhos.
- Você parece tão linda - eu sussurrei, com medo de que cada palavra que parecia uma grande revelação em minha cabeça soasse pequena em meus lábios, mas ainda assim ela sorriu, como se o som de minha voz fizesse todo o sentido do mundo.
- Você parece tão estupidamente linda - repeti, daquela vez apenas em minha cabeça, e deixei que o silêncio se encarregasse do resto. Toquei a ponta de seu queixo com meus dedos, subindo lentamente até seus lábios. Acariciei o lado esquerdo de sua bochecha, e então o seu pescoço, explorando delicadamente todo o caminho de seu rosto, como se eu já não conhecesse tão bem cada parte dele. Minhas mãos, então, procuraram as suas, e ela as apertou, como se apenas seu toque pudesse dizer alto o bastante.
Quando já não parecia haver qualquer espaço entre nós, ela se aproximou ainda mais, nossos rostos tão perto que me era possível observar cada um de seus detalhes, tão intensamente vívidos que nem pareciam reais. Então a observei, pelo o que poderia ser horas ou apenas alguns segundos. Observei-a atentamente como se aquela fosse a primeira ou última vez, aproveitando cada segundo antes que a meia noite desse lugar a mais um dia comum, em que Mag e Li eram apenas Mag e Li, e não existia nenhum nós.
Observei-a com tanta intensidade que por alguns instantes temi assustá-la, até me dar conta de que ela fazia o mesmo. Li então me puxou para seus braços, num abraço tão apertado que não pareceu existir qualquer coisa além de nós duas, e quando ela sussurrou, no canto de meu ouvido, as palavras que eu tanto esperara escutar, quase me esqueci do Sol que ameaçava emergir acima de nossas cabeças, indicando que era hora de partir.
- Eu te amo tanto - ela disse mais uma vez, com uma gritante diferença que partiu meu coração. Porque aquelas palavras, para nós, não eram um final feliz.
- Li - eu comecei, mas aquela foi a vez dela de me interromper.
- Não. Meu amor - ela acariciou meu rosto, limpando cada uma de minhas lágrimas com a ponta de seus dedos, e o modo como ela sussurrou aquelas palavras me fez desejar que eu pudesse abraçá-la pra sempre.
- Não diga nada - ela pediu, colocando o dedo sob meus lábios, como uma espécie de despedida, e eu obedeci.
Não disse nada o caminho todo, nem mesmo enquanto atravessávamos a ponte velha - um sinal da proximidade de casa; e daquela vez o silêncio pareceu partir cada parte de meu corpo, num estranho contraste ao não-precisar-dizer-nada de outrora.
Observei-a colocar delicadamente seus sapatos no canto da porta, tomando todo o cuidado de não fazer qualquer barulho, e cruzei meus dedos quando percebi que ela se demorava um pouco mais a entrar, numa espera de um sinal que eu sabia que não poderia existir - não naquele mundo.
Ela girou a maçaneta e eu sabia que era a hora exata de partir, mas mantive meus pés no chão como a última pontada de esperança de um amor impossível, quando seu corpo se virou em minha direção, cada um dos tons de seus olhos me dizendo o que eu já tão enlouquecidamente sabia.

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