Esgueirando-se por meu cabelo, se espalhando em minha pele, misturando-se ao meu sangue - engulo sua essência como a uma taça de vinho familiarmente amargo. Suas garras afiadas, que outrora ameaçavam me apunhalar, se confundem já com minhas próprias mãos, irreconhecíveis sob a pele queimada.
Feitos de idêntica substância, de repente somos apenas um: embebidos nas mesmas sombras, pedaços da mesma sobra. Forço-me então a simpatizar com cada tom da escuridão, mas tudo o que tenho são fragmentos desprezíveis, desenhados por suas mãos.
- Você é tão cruel - grito para os hospedeiros em minha mente, sanguessugas de meu próprio DNA; e numa confusão sem precedentes, já nem sei quais pedaços me pertencem.
Te expulso e amaldiçoo, mas seu veneno, impregnado em minha saliva, viaja por meu corpo em borrões tão escuros que já não posso distinguir meus próprios traços. Seus ecos, tão altos em minha mente e afiados em minha carne, soam como minha própria voz. Suas palavras correm por minhas veias, como poção mortal que agora é meu próprio sangue, e já não faço ideia do que sou.
se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...
Comentários
Postar um comentário