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Mostrando postagens de agosto, 2017

Enunciando

Eu não tenho mais palavras pra você. Eu não tenho mais palavras pra você, mas elas voam ao meu redor. Elas flutuam por aí, indo e vindo e pousando em meu coração. Eu não tenho mais palavras pra você. Ou cartas. Ou poemas. Eu já não tenho mais maneiras bonitas de dizer, então talvez eu deva simplesmente te mostrar. Pegue - começo por minhas mãos. Veja - deixo que me percorra atentamente. Abra os olhos - eu penso, mas estou errada. Sinta. Eu não tenho mais palavras pra você, mas elas transbordam de mim. De maneiras que não posso descrever (elas não seriam o bastante). Então talvez você devesse levar tudo. Pegue. Toque todas as cores - elas são suas. Sinta todos os tons - nós os criamos. Beije todo o calor - você o conhece tão bem. Deite na tempestade - se ela te agrada. Pegue. Eu não tenho mais palavras pra você, porque já não posso enc...

Universo alternativo

Um mundo alternativo. Esse seria meu presente para Riley, pensei, à caminho da floricultura de sempre, sem ideias criativas o bastante para ser inovadora. O presente perfeito seria um mundo alternativo. Um universo belo e colorido, sem preocupações e trabalhos da faculdade. Sem obrigações, complicações ou tarefas da vida adulta. Um  universo onde nós pudéssemos fazer nada juntas o dia todo, sempre que quiséssemos. Um universo seguro e calmo, como o seu abraço. Aconchegante, como seu corpo. Quente e confortante, como seus beijos. Um universo onde não precisássemos acordar cedo - o que é muito importante, já que Riley adora a noite. Não sou boa em dar presentes - sempre me vejo no impasse do útil versus significativo, e na maior parte das vezes me perco entre os dois mas, se eu pudesse, criaria um universo alternativo para nós. Tão bonito quanto aqueles olhos - hipnotizante como sua luz....

Acesa

Ela levantou a janela devagar, seus pés mal tocando o chão de meu quarto e pousou com tanto cuidado que eu mal poderia escutá-la se meu corpo todo não estivesse prestando atenção à cada um de seus movimentos. Uma parte de mim - uma grande parte - morria de medo de que pudessem ouvi-la e a outra parte - a que quase vencia - desejava correr em sua direção, me jogando em seus braços. Mas eu precisava manter a calma, porque aquilo era tudo o que tínhamos, e era demais para arriscar. - Feliz aniversário, cariño - ela me encarou o tempo todo, mas só disse algo quando seus lábios estavam próximos ao meu ouvido, tomando o cuidado de sussurrar. A observei atentamente por alguns instantes, meu corpo parecendo entrar em combustão. Eu sentia tanto a sua falta - era possível explodir de saudade? A observei atentamente por alguns instantes, seu corpo brilhando, como pequenos pontos luminosos se acendendo lent...

Estações

Eu estava pronto para acabar com aquilo. Peguei o caminho mais longo para o jardim, de propósito - não porque eu particularmente gostasse de caminhar, mas para poder me acalmar antes de vê-lo. Eu nunca havia gostado de discussões. Não porque fosse uma pessoa fácil de lidar e quisesse evitar conflitos - eu podia ser bem teimoso às vezes - mas porque, toda vez que entrava em uma, meu corpo todo parecia não me obedecer. Minhas mãos tremiam, minha pele se avermelhava e, antes que eu pudesse me controlar, meus olhos se enchiam de água. Aquilo era um saco - meu pai sempre me mandava "parar de ser um maricas", o que fazia mamãe intervir, e de repente a sala era dominada por gritos que não paravam até Margareth começar a chorar, e então um deles deveria ir colocá-la para dormir. Geralmente era mamãe, porque meu pai sempre estava cansado demais para cuidar de qualquer um de nós, até nos fins de seman...

Nada

- Porque você não vê? - ela gritou, sentindo seu corpo diminuir lentamente. Estou aqui , sussurrou mais baixo. Porque você não vê? O espelho se tornou grande demais, e tudo fez sentido. Abra os olhos , disse a si mesma.

Secundidade

Não acredito em amor à primeira vista e essas bobagens. Embora os romances típicos - meus favoritos, ironicamente,  preguem isso, todo mundo sabe que não dá pra se apaixonar no primeiro segundo. Não acredito em amor à primeira vista e essas bobagens, mas quando vi Meredith pela primeira vez, bem...eu podia jurar que senti algo. Talvez estivesse impactada por sua aparência - ela era bem bonita e todo mundo sabia disso. Talvez fosse o sorriso simpático que ela jogara em minha direção (Meredith era uma distribuidora de sorrisos, o que de forma alguma os tornava menos valiosos). Não sei dizer com exatidão o que foi, mas eu tinha certeza que sentira alguma coisa. Nada em comparação com o incêndio que se espalhava por meu corpo cada vez que nos beijávamos. Mas eu sentira algo. Meredith era uma distribuidora de sensações. Não sei como ela conseguia, mas sempre que estávamos juntas, a...

Lily

(20 horas antes) Me dê boas razões para ir, eu penso, tão alto que parece ecoar por todo o terminal de ônibus. Viro para trás, me perguntando por alguns instantes se as pessoas ao meu redor podiam ver - porque era tão óbvio para mim. Era tão óbvio e, ao mesmo tempo, tão difícil de dizer em voz alta. Eu precisava ir embora, e não apenas literalmente - meu último ônibus para casa passaria dali a alguns minutos. Eu precisava fazer aquilo, mas minhas pernas pareciam estagnadas. Havia uma série de razões para ir - eu poderia listá-las em minha mente, palavras afiadas que, às vezes, me sufocavam, como quando minha pressão caía ao sentir que não podia respirar em lugares lotados. Havia uma série de razões para ir, e era a coisa justa a se fazer, para ambas, mas aquilo não tornava a decisão mais fácil. Uma série de razões para ir, e todas elas pareciam s...

Caça

Eu te sinto à quilômetros de distância, suas garras se alastrando até minha pele, penetrando até a última camada. Eu te ouço à quilômetros de distância, seus sussurros invadindo meu corpo até o ensurdecer. A primeira coisa que vejo são seus olhos: fendas odiosas ecoando as sombras que gritavam em seu íntimo. Me calei. A segunda coisa que vejo são suas mãos: ferramentas puras que não ousam me tocar. Gritei. A última coisa que ouvi foram seus passos, quando calmamente caminha de volta à escuridão, sua gargalhada se camuflando no festejar sangrento quando misturo-me à poeira da calçada. Fogo! você grita, e já é tarde demais.

TV

O tédio tateia a tela trazendo tensões que transbordam tonteantes verdades que vazam e vem e voltam e vagam varridas vorazes vomitadas vagarosamente no vão da viela dos versos do vago você.

Pule

se me dissessem que tempestades eram tão belas, eu mandaria queimar todos os guarda-chuvas que pudesse encontrar. Deixe que a noite acenda, e você nunca se sentirá tão viva. " E se eu não quiser queimar?" ela me perguntou, vestindo sua expressão mais inteligente, e eu podia jurar - por toda a minha coleção de canetas coloridas e todas as minhas figurinhas do Simon Snow - que seus olhos faiscavam. Não eram a sua parte mais bonita - ela tinha um montão de pedacinhos notáveis e, de alguma forma, era muito mais do que a soma das partes. Não, seus olhos não eram sua parte mais bonita. Talvez fossem as mãos, ou a boca - aquela boca - mas eu era suspeita demais pra falar. Nossa professora de biologia havia dito que podemos ficar três minutos sem oxigênio - o que era tempo pra caramba - mas quando aqueles lábios tocavam os meus, bem... eu tinha certeza que a Srta. Tomas estava errada. Porque aqueles láb...

Transbordando

Começo pensando que talvez tenha algo de errado em minha cabeça. Ou em minhas mãos. Talvez em minha boca. Um pouco em meus olhos - e uma pitadinha no meu peito. Começo achando que talvez tenha algo de errado em minha cabeça. Porque sinto um montão de coisas quando estou com você. E não faço ideia do que cada uma delas significa, mas sei que tomam conta de mim. De cada parte. Começa na ponta dos meus dedos - às vezes no canto dos meus lábios, no finalzinho da minha orelha ou na palma de minhas mãos - e se espalha por todo o meu corpo, numa velocidade que eu nem fazia ideia poder existir. Como um calor que vai do canto dos meus lábios até qualquer lugar em meu peito e me aquece numa tarde congelante de julho. Eu sinto um montão de coisas quando estou com você, e quero segurar cada uma delas em minha mente, em minhas mãos, em meus lábios, em meu rosto - em todo o corpo - para que não esca...

Transbordando (parte II)

Sobre poemas que nos invadem Tudo se desorganiza quando penso em você. Sentimentos que não posso controlar tomam conta de meu corpo, minha cabeça, meu coração - por mais brega que isso soe. É como me sinto quando estamos juntas: como se eu tivesse milhões de sensações fervendo em cada parte de mim. Como se elas fossem muitas e eu não pudesse segurá-las em minhas mãos, ou mantê-las controladas. Como se elas me invadissem. Como se tudo o que eu pudesse fazer é deixá-las jorrar, colorindo tudo em mim e à minha volta - cada pontinha. Então eu deixo que jorrem. E é uma sensação maravilhosa.