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Mostrando postagens de maio, 2017

Começo (s)

Era noite de festa. A música ruim ecoava em seus ouvidos, seu corpo sacudia cambaleante, e ela ria, desequilibrada, entre goles de vinho. Tudo começou com um beijo - embriagado, interrompido e esquecido. E terminou com um deixar pra lá que acinzentou uma pontinha de um início de paixão que ameaçava chegar como uma tempestade de verão. Era tarde de domingo. Música doce ecoava em seus ouvidos, seu corpo balançava ao som da balada desconhecida, e ela ria, brilhando ao lado de um ensolarar personificado. Tudo (re)começou com um beijo - colorido, quente e constrangido: quase esquecido. E continuou com um arco-irizar que tatuou uma pontinha de poema em cada parte de seu corpo, boca, mente e coração, como uma paixão que chega na hora, tropeçando na gente, e se instala sem devolução.

Horizonte

"Bato meus braços o mais rápido que posso, mergulhando nas profundezas do desconhecido. Minhas pernas, cansadas, imploram por uma pausa - luxo com o qual não posso me presentear. Estou tentando te salvar, mas as águas parecem cada vez mais distantes. Nado mais rápido, o caminho se alonga. Onde você está? Estou tentando te salvar, mas você parece cada vez mais longe. - Você é o horizonte - ouço uma voz que parece estar a alguns centímetros de minha cabeça e, ao mesmo tempo, a quilômetros dali. Ressoando e se perdendo meio ao som dos pássaros e de minha mente - Você é o horizonte , ela repete. Me perguntei o que aquilo significava. A resposta para todas as perguntas era sim. E, ainda assim, eu não tinha resposta nenhuma."

Aquarela

Via marrom em todos os lugares. No café que coava às pressas quando ainda nem havia amanhecido, nas ruas empoeiradas que passavam por seus tênis entre a casa e o ponto de ônibus e no cabelo da voz que ditava longos textos por aproximadamente duas horas na sala pequena. Via marrom em todos os lugares. Marrom que tinha gosto do nome que, agridoce em sua boca, não podia ser cuspido. Também via amarelo - na mostarda que cobria o sanduíche seco do almoço, na caneta que riscava o caderno em busca de um desenho qualquer, na faixa gritante que pintava a entrada da escola. Via amarelo em todos os lugares. Amarelo pálido que contrastava com o raio de sol que não vinha há tempos, porque a garoa das tardes intermináveis cegava seus óculos gastos. Por vezes, via azul. Na pasta que hortelava sua boca às pressas pela manhã e no casaco puído que não desgrudava dos braços da irmã mais velha.Via azul em to...

Indescolorivelmente

Você me fez vermelho-vibrante quando todo o meu corpo ardeu em brasas. Me fez laranjafogosdeartifício quando as batidas do meu coração se aceleraram numa explosão embriagada. Me fez amarelo-diamante , meio a uma cidade acinzentada, quando belamente se tornava sol. Me fez castanhovocê quando mergulhei nos particulares tons de seus olhos e lá desejei fazer morada. Me fez azulpóschuva como o céu de seu abraço, que, me cercando, tornava tudo constelação. Me fez iridescente quando tudo dentro de mim brilhou aquelas centenas, milhares, indescritíveis cores. Me ensolarou e me fez sol, tão quente quanto o seu toque. Me choveu e me fez tempestade, deliciosa no meio da noite. Colorida como um amor que chega no meio da primavera, doce como um beijo que faz vôo numa tarde de outono. Você coloriu meu coração, desenhando em cada uma de minhas células num poema que fez vôo sem anunciar, e, de...

Resistência

Com esse amontoado de letras, palavras e crenças que criam, definem, rotulam tudo o que vemos, sentimos e somos você diz que minha existência é errada por não se encaixar na regra que foi pautada do que culturalmente disseram "normal" Com esse amontoado de letras, palavras e crenças que criam, definem, rotulam Você diz que o que sinto é só uma fase E repete palavras de bolsonazi Demoniza minha existência Com a mesma mão que faz penitência Diz que é só uma brincadeira, Que protesto por besteira E devo me curvar à maioria Sem mimimi e rebeldia Com esse amontoado de letras, palavras e crenças Que criam definem rotulam Nos armários de seu ódio se escondem tantos de nós Que meio a uma multidão raivosa estão a sós Tentando sobreviver Entre 58 milhoes de vozes que querem nos ver morrer E agora me pergunto Será que cê pode me ver? Estou bem à sua...