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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Lucy

- Qual é o seu lugar favorito na terra? - ela perguntou, numa voz doce e calma que fez daquela grama molhada e infestada de inseto o lugar mais aconchegante do mundo, e toda aquela sensação de paz me fez perceber, mais uma vez, que eu estava certa. Era daquela maneira que as coisas deveriam ser - que a minha vida deveria ser, e era aquela sensação que eu deveria buscar. A garota era, no início daquela noite, uma total desconhecida para mim. Tudo o que eu sabia sobre ela era que tinha um blog e trabalhava meio período em um jornal - coisas estúpidas pra se saber sobre uma pessoa, e ironicamente me dei conta de que era tudo o que sabiam sobre mim também. Apenas coisas estúpidas e triviais - apenas a casca , o que geralmente fazia eu me sentir estúpida e trivial, mas naquela noite eu só me sentia estranhamente feliz, e era daquela maneira que eu deveria ir embora - carregando, além de minha mochila e aquele ursinho velho, tod...

Estalo (parte II)

(ou Noite de janeiro ) Ela tinha a cabeça deitada em minha perna e tudo em nós era silêncio. As luzes estavam apagadas, soando como casa - calmo e aconchegante. Ela tinha a cabeça deitada em minha perna, o cabelo bagunçado e os olhos acesos em meio à escuridão - os olhos mais lindos que já tive a sorte de contemplar. E o fiz, por mais tempo do que eu poderia contar, enquanto toda aquela onda de sensações me invadia. Será possível gostar tanto assim de alguém? - foi a pergunta que fiz a mim mesma quando me dei conta de quão grandioso era tudo aquilo. Deixei então que caísse em mim, refrescando cada parte de meu corpo, como uma chuva que vem no meio da noite - ondas que lutavam contra todas as pequenas barreiras corpóreas e ameaçavam emergir por meus olhos. Ela tinha a cabeça deitada em minha perna, o cabelo bagunçado e os olhos acesos em meio a escuridão - aqueles olhos lindos, e ...

Estalo

(ou Noite de janeiro ) Te amar é calmo Te amar é luz Te amar é mágica Te amar é Sol Te amar é céu Te amar me estrela Te amar são ondas de calmaria Te amar é noite que me refresca Te amar é doce Te amar é certo Te amar é brilho Te amar é fogo - e tira o fôlego Te amar é quente Te amar é lindo Te amar palpita meu coração (Num ritmo muito bonito) Te amar são cores E poesia Te amar é onda Que não me afoga E te amar me acende faróis de calmaria Te amar é luz Te amar é casa Te amar é chuva E ventania Te amar é azul Te amar é mágico E me maravilha todos os dias.

Sangria

Vidros quebrados e eu me sentia doente - meu corpo todo exalava saúde. Ferimentos superficiais e um curativo parecia o bastante - até não restar uma sobra de pele descoberta. Olhos inchados e noites de insônia, remendos mal feitos e continuo bem - eu quase convenço a mim mesma. Procuro pelo som das rachaduras, e de repente estou em cacos. Tentei encontrar beleza nos pontos sangrentos - era só mais uma parte. Tentei encontrar desculpas para os cortes infeccionados - eles poderiam melhorar. Tentei esconder os curativos sujos - eles não existiam debaixo do tapete. Tentei ver beleza no vermelho e no roxo, tão escuros e familiares que já não mais me assustavam. Tentei e tentei, então deixei sangrar, cada gota que já não podia ser escondida da claridade, cada onda que emergia lentamente e me dobrava. Tentei encontrar palavras bonitas para ela, como metáforas e cores, mas a verdade é que a dor é escura e soli...

Janelas

"A escuridão costumava me assustar, porque tudo parece mais silencioso quando a noite cai, e de alguma forma mais real. A escuridão costumava me assustar porque era quando as sensações se acentuavam - todas elas, emergindo do fundo do baú e penetrando as camadas que restavam. A escuridão costumava me assustar porque eu sabia que no fim não estava absolutamente sozinha. Eu tinha meus pensamentos - aqueles que me encontravam a quilômetros de distância, seguindo a rota mais tortuosa até minha pele. A escuridão costumava me assustar porque eu amava a luz e a sensação do sol aquecendo meu corpo, mas quando acabava era só noite. Costumava me assustar porque o brilho do abajur velho parecia artificial demais e, de certa forma, mentiroso. Costumava me assustar porque me lembrava do que eu mais sentia falta, e algo em mim gritava que todas as luzes da cidade seriam insuficientes - nenhuma jamais chegaria nem perto. A escuri...