Antes dos surtos, geralmente vem um frio na barriga. Frio que começa na ponta dos pés e sobe devagarinho até a cabeça - então volta, parando na boca do estômago, como um aperto, ou um beliscão. Não, mais como um formigamento temporário. Antes dos surtos, geralmente vem as perguntas pra mim mesma. Aqueles debates mentais pesados por minha balança controladora, acompanhados de conselhos formulados por uma das tantas "eu". Antes dos surtos vem os sonhos. As imagens coloridas, felizes e perfeitamente imperfeitas que acompanham os sorrisos. Antes dos surtos, vem o medo. Aquela estranha sensação de sufocamento, quase como não poder respirar. Ou poder, mas sentir como se não pudesse. Antes dos surtos, vem o medo do amanhã. Do ano que vem, das próximas décadas, ou do próximo segundo. Do próximo milésimo de segundo . Antes dos surtos, vem o espelho, que trás todas as peças do...