Vovó dizia que a saudade é salgada. Quando eu a pegava enxugando os olhos, às pressas, no meio da noite, encarando as duas xícaras de chá perto da velha poltrona do vovô, tudo parecia fazer sentido. Vovó dizia que a saudade é salgada, e naquele dia, algumas semanas antes de o verão acabar, quando toda a água do meu corpo parecia ter saído por meus olhos e meu rosto estava mais inchado que o de Ana depois de suas reações alérgicas, eu achava que havia entendido. Vovó dizia que a saudade é salgada, mas ela estava errada. Porque maior do que a saudade que me fazia afundar naquela beliche rangenta era a culpa. A culpa era salgada, e como a sopa da mamãe, demorava pra descer. A minha ainda estava entalada, em algum lugar bem no meio da minha garganta, e não importava quanto eu engolia e engolia, ela continuava ali. A maldita continuava ali. Vovó dizia que a saudade é salgada, mas ela estava...